domingo, 4 de junho de 2017

MEYERHOLD CONTRA O MEYERHOLDISMO


          Em Janeiro de 1936, Andrej Zdanov, criador das teses do "realismo socialista" monolítico no congresso de 1934, atacou o "formalismo" na sessão do Soviete Supremo. Pouco depois foram publicados no Pravda (Jornal soviético) três artigos, em que esses ataques receberam destaque e foram propagados.
            Meyerhold inconformado com essas acusações, algumas feitas diretamente a ele, as respondeu proferindo um discurso em Março de 1936 em uma conferência em Leningrado: "Meyerhold contra o Meyerholdismo", em que defendia a experimentação, a legitimidade do seu trabalho e a necessidade de uma cimentação autêntica entre forma e fundo. Pouco depois, em Abril, na conferência de diretores de cena, seu discurso insistia nos mesmo pontos, tentar sair da mediocridade que começava a invadir o teatro soviético.
Andrej Zdanov, braço direito de Josef Stalin na área cultural
e idealizador do Realismo Socialista.
É importante destacar que nessa época o teatro, literatura e artes visuais deveriam ter um compromisso primeiro com a educação e formação das massas para o socialismo em construção no país. Dessa forma os artistas eram obrigados a seguir essa linha de criação, fazia parte dos planos de governo de Stalin. Uma arte "proletária e progressista", empenhada politicamente, envolvida com os temas nacionais e com as questões do povo russo, esta era a aspiração da tendência artística.
O estilo era "realista na forma" e "socialista no conteúdo", isso significa que a obra de arte deveria ser acessível ao povo - figurativa e descritiva - e sua mensagem, um instrumento de propaganda do regime. Desenhos, telas e cartazes publicitários mostravam proletários, camponeses, soldados, líderes e heróis nacionais, frequentemente idealizados, seja pela exaltação de corpos vigorosos (indicando força e saúde), seja pela celebração de movimentos sociais e feitos políticos.
Os artigos publicados no Pravda criticavam, portanto, o “formalismo” e o “naturalismo” utilizados na arte. Dessa forma, o termo Meyerholdismo era, às vezes, citado para expressar a combinação dessas duas características artísticas. Em seu discurso, na conferência em Leningrado, Meyerhold questiona de onde haveria saído tal termo.
“Gostaria agora de ir ao teatro, porque nele também posso ver claramente o escárnio que tenho desejo de comentar: O Meyerholdismo. Do que se trata? De onde saiu este Meyerholdismo? Quem o deu vida? Quem o colocou em prática? Quem lhe abriu caminho? Quem o afirmou? E aqui, sem responder imediatamente, faço uma pausa para dizer que se existe uma ligação próxima, uma coesão aproximada entre a forma e o conteúdo, qualquer que seja a direção artística que tomemos, veremos que esta força de conexão, esta fundamentação entre forma e conteúdo, não depende de um artifício técnico, nem mesmo de uma habilidade técnica de nós artistas. Esta conexão, esta forte fundamentação, deriva precisamente de que o homem é a base de toda arte, tanto no sentido de que este é seu criador, como no sentido de que as obras de artes são criadas para o homem; se alimentam da presença do homem no trabalho em si, seja qual for (...)”

·          Bibliografia:
     
        REALISMO Socialista. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2017. Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/termo403/realismo-socialista>. Acesso em: 03 de Jun. 2017. Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7


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