"A arte na encenação é saber harmonizar, pelos jogos de cena o tecido melódico do espetáculo. Este é o jogo dos atores."
MEYERHOLD, Vsévolod
Meyerhold talvez tenha sido quem mais aprofundou e superou os princípios que Stanislaviski iniciou, mas todo seu esforço vinha principalmente do desejo de criar um ator que fosse capaz de dar conta de um teatro para além da imitação do gesto. Que fosse capaz de compreender o personagem, o texto e seu papel como criador, possibilitando interação emocional da obra com o público. Um ator que fosse criativo.
A prática meyerholdiana constituir em fundamentos que busca um ator que tome frente e uma posição diante da personagem, rompendo a quarta parede e jogando com o público. Isso por si só já significa um distanciamento evidente do naturalismo.
Neste ponto se faz importante um esclarecimento terminológico. Em oposição ao teatro que imita a vida, Meyerhold resgata a ideia do teatro como o local da convenção. Sabemos que não é vida real e sabemos que não se trata da vida das personagens, mas atores que as representam nas situações cênica. A partir daí estipular os papéis da plateia e dos atores, na construção desse lugar para além do real. Assim falando em Teatro de convenção desenvolvido no período quando esteve à frente do Teatro Estúdio.
Sete princípios aprovados por Meyerhold sobre o Teatro de Convenção:
- A ênfase é no ator, trabalhando com o mínimo de acessórios e cenário;
- O espectador é instigado a usar sua imaginação;
- O ator trabalha sobre plasticidade física e expressão;
- As palavras do texto podem ser musicalizadas pelo diretor;
- O ritmo se torna mais importante para as mentes do diretor e dos espectadores;
- O visual do trabalho é construído cuidadosamente, como a pintura de um quadro;
- O teatro estilizado pode produzir qualquer tipo de peça, de Aristifanes a Ibsen.
Então pra retomar o exercício, o ator tem poder livre no texto, mas precisa comunicar a essência da cena. E pode reduzir os recursos técnicos para absolutamente o mínimo. O ator precisa pensar como um pintor e construir a cena com estilo sólido para a forma, linha e cores. Acima de tudo, precisa fortificar sua expressividade física na atuação, concentrando todo o tempo no ritmo: o ritmo do diálogo, o ritmo dos movimentos, o ritmo das formas criadas quando os atores se jutam no palco.
Esse olhar de Meyerhold dá a dimensão do teatro atual, pois mais que uma reação ao naturalismo ele resgata a teatralidade da cena. Tudo a partir do trabalho do ator, que se torna compositor de sua encenação, em diálogo com todas as demais composições em jogo, pois é um elemento da cena tão importante quanto a iluminação, a sonoplastia, o cenário, o design visual ou figurino
Era necessária a compreensão de uma nova musicalidade para o trabalho do ator, assim como acontece hoje. Quebrar com a mesmice da música da vida cotidiana, e isso somente se poderia alcançar pelo mistério e pelo inacabado. O oposto disso, o teatro naturalista, transforma a arte teatral numa ilustração das palavras do dramaturgo.
Biografia
ABENSOUR, Gerard. Vsevolod Meyerhold ou a Invenção da Encenação. Trad. J. Guinsburg. São Paulo: Perpectiva, 2011
Biografia
ABENSOUR, Gerard. Vsevolod Meyerhold ou a Invenção da Encenação. Trad. J. Guinsburg. São Paulo: Perpectiva, 2011
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